Se penso mais que um momento
 Na vida que eis a passar,
 Sou para o meu pensamento
 Um cadáver a esperar.
  
 Dentro em breve (poucos anos
 É quanto vive quem vive),
 Eu, anseios e enganos,
 Eu, quanto tive ou não tive,
  
 Deixarei de ser visível
 Na terra onde dá o Sol,
 E, ou desfeito e insensível,
 Ou ébrio de outro arrebol,
  
 Terei perdido, suponho,
 O contacto quente e humano
 Com a terra, com o sonho,
 Com mês a mês e ano a ano.
  
 Por mais que o Sol doire a face
 Dos dias, o espaço mudo
 Lembra-nos que isso é disfarce
 E que é a noite que é tudo.
  
   
 
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